sábado, 18 de dezembro de 2010

RETORNO


Joel Pires
            Acordou sobressaltado. O suor marejava no rosto marcado pelo susto e pelo despertar súbito. Ainda sentado na cama, recobrou o fôlego e refez-se do sonho agitado. Respirou aliviado. Lembrou-se de que havia saído para trabalhar cedo, mal começara o dia. Nem deu tempo de tomar café, ainda no bule, que sua mãe deixava no fogão. Na falta de garrafa, a bebida ficava à disposição, esquentando no borralho, bastando apenas servi-la. O costume, na estação fria, era deixar as brasas sempre acesas e a lenha por perto.
            Jonas pegou a capanga, encardida de suor, poeira e cinza. Seguiu em direção ao velho pau-de-arara, conhecido das lavouras do sertão. Ia esquecendo a marmita, mas a mãe, Dona Filó, já estava a meio caminho com a matula na mão... Novamente o susto. Uma voz brada: “Nego, acorda! Tá na hora!”. Era assim que, desde menino, o chamavam. Neguim. O apelido carinhoso pegou. Sua avó estava com o embrulho na mão. Desta vez, tomou café e saiu.
            No caminho da lavoura, a barra do dia quebrava. Jonas avista o pequeno cemitério do vilarejo onde morava. Ficava num descampado perto de uma vereda. Os buritis amenizavam a paisagem, águas brotavam à sombra. Ao longe, pôde ver, próxima à fonte do córrego que se formava, a cruz simples, embora de madeira nobre, indicando a cova onde Dona Filó descansava entre pássaros, nascentes e o arvoredo.