quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Sonho de Darcy Ribeiro


Joel Pires

             É manhã de quinta-feira. O sol reina no azul de Brasília, sem nuvens. O clima está agradável e me convida para uma caminhada. O vento balança as palmeiras, as folhas ciciam. Por razões excepcionais, não houve aula de oficina de texto. Passeio pelo campus. Observo as construções, antigas e novas, modernas. Há canteiros de obras espalhados pela universidade. O sonho de Darcy cresceu, materializou-se no espaço que abriga o conhecimento, agora compartilhado por milhares de estudantes oriundos de todas as classes sociais.
            Trata-se da democratização do saber defendida por grandes educadores, como Paulo Freire. São as políticas de inclusão fazendo valer o ideal daqueles que fundaram a Universidade de Brasília. Autonomia, liberdade, universalidade: legados deixados por Darcy Ribeiro. Vejo o Teatro de Arena. Os ipês floresceram. Estavam aqui quando o Professor-Senador recebeu o título de Doutor Honoris Causa. Local onde o mestre, idealizador, defensor e fundador da UnB, proferiu seu último discurso nesta instituição. Comovido, ele relembrou os ideais que nortearam o seu maior projeto. Em parte, graças a Darcy, Brasília produz ciência, arte e cultura. Esse nobre professor, incansável em sua luta, nos salvou do obscurantismo. Foi uma batalha grandiosa, uma conquista dignificante. A universidade, por pouco, estaria fora dos planos da nova capital. Foi preciso a brava resistência de professores, cientistas e estudantes.
            Retorno ao ICC sul e passo pelo DCE Honestino Guimarães: uma homenagem ao estudante goiano morto em 1973, durante a Ditadura Militar. Foi presidente da UNE. Lutou contra o regime de exceção. É símbolo de resistência. Hoje o campus respira democracia. E pensar que a universidade já foi campo de batalha, que professores e alunos foram hostilizados, agredidos, expulsos, presos, torturados. Que um jovem idealista foi morto. “Desaparecido”, consta nos documentos. Período de trevas aquele, em que a ordem era a perseguição. Todavia, o que nos conforta é saber que, apesar de tudo – da repressão sofrida, dos abusos cometidos, da execução tramada –, herdamos a liberdade, mas isso não é garantia de democracia. Temos a obrigação de manter a memória e a esperança, de continuarmos vigilantes contra qualquer ameaça a direitos, seja ela qual for, venha de onde vier.